dos livros

não tem sido comum, mas aconteceu: comecei o ano com dois livros de autores portugueses. 



"À Espera de Moby Dick", de Nuno Amado
por ser recente, ter uma sinopse no mínimo curiosa e ter sido apresentado pelo reconhecido autor João Tordo, que lhe teceu vários elogios. confirmei: é dos poucos que pondero tirar da estante e reler vezes  sem conta. pela construção epistolar, pela linguagem de proximidade, mas sobretudo pelo humor de que reveste alguns assuntos tão sérios.

"O boxe sempre serviu de metáfora fácil para tudo e mais alguma coisa. Para mim, o seu caso lembra-me os românticos falhados, a quem o amor derrota vezes sem conta e que, apesar da dor e do desespero, e das feridas profundas no mais importante músculo do corpo, se voltam a levantar, erguem de novo os punhos e estão dispostos a apaixonar-se e a acreditar que, da próxima vez, sim, da próxima vez serão eles que terão o braço levantado, da próxima vez o amor triunfará". 



"O Filho de Mil Homens", de Valter Hugo Mãe
simplesmente porque sim, porque ouvi críticas tão boas e já me parece ser um autor incontornável da nova geração de escritores portugueses. curiosamente, o humor é um traço comum a ambos. mas terminam aí as semelhanças, já que este consegue ser profundamente comovente com palavras tão simples. é uma narrativa fechada, com um círculo de personagens que se cruzam e cujas vidas acabam por fazer muito mais sentido juntas. 

"Sonhava que haviam de ser perfeitas as mulheres por serem escolhidas para a maternidade, a construírem pessoas dentro de si. As mulheres construíam pessoas meticulosamente, sem sequer olharem ou se preocuparem demasiado com isso. Construíam-lhes cada osso, cada veia e cada fio de cabelo. E depois abanavam-se e provocavam o embalo das águas interiores que suavemente desenhavam os dedos das pessoas a construir. O Crisóstomo pensava que as mulheres assinavam cada filho".

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